Resiliência e o Rolfing

A Resiliência e o Rolfing

A palavra “resiliência” vem do latim resilio, que significa voltar atrás. A nível emocional, a resiliência é a capacidade humana de lidar com problemas e superar situações adversas sem “quebrar”, conseguindo voltar a forma original e seguir em frente.

Com todos os desafios deste ano de 2020 de pandemia do Covid-19, a ABR (Associação Brasileira de Rolfing) fez uma série de lives com convidados que trazem conteúdos muito ricos.

No dia 25/11/2020 foi ao ar a live do ABR de Portas Abertas com o tema “Resiliência – como nosso corpo se adapta às mudanças”. Neste bate-papo, a médica e rolfista Vivian Ulup Andersen e a professora de Rolfing Lael Keen falam sobre suas visões de resiliência, tanto a nível emocional quanto corporal, pois a fáscia, o objeto do trabalho do Rolfing, também tem essa incrível capacidade de se adaptar e readaptar. Assista abaixo:

O QUE SÃO FÁSCIAS?

Ouvimos falar sobre os músculos, ossos,órgãos, células, porém, o tecido que reveste todas essas partes do corpo ainda é muito pouco conhecido popularmente. Chamado de fáscia, ou compartimento fascial, essa é a principal matéria prima que o rolfista trabalha. Trata-se de um tecido conjuntivo fibroso que é responsável por 80% do movimento mecânico muscular. Essa malha de tecido conecta e envolve os músculos, ossos e órgãos, formando uma teia tridimensional da cabeça aos pés.

A fáscia é organizada em camadas, envolvendo e preenchendo toda estrutura do corpo, e também dá condições para que cada segmento funcione de maneira adequada. Graças a sua plasticidade, consegue suportar os músculos e proporcionar uma boa relação com os ossos, o que basicamente determina a forma do corpo.

Esse tecido conectivo é composto por elastina, colagénio e mucopolissacaridios.  A elastina proporciona elasticidade e uma porcentagem de água que lhe atribui a viscosidade necessária para deslizar entre uma camada e outra. Já o colágeno deixa a malha resistente e colante. O equilíbrio entre esses dois componentes permite que as fáscias tenham flexibilidade. Essa malha é alimentada por um nervo e vasos sanguíneos específicos.

Indispensável para o desempenho fisiológico de cada ser humano, as fáscias mantém juntas as células musculares e permite o movimento independente de cada músculo. Por diversas razões  e tensões do dia a dia, pode acontecer do músculo ficar sobrecarregado, diante disso, a fáscia acaba absorvendo parte dessa carga e isso impede que o músculo se rompa. Com o esforço excessivo a fáscia acaba se tornando mais densa e curta, perdendo sua elasticidade e adquirindo inflamações.  Assim a estrutura corporal vai mudando gradativamente.

A boa notícia é que a fáscia pode ser modificadas com aplicações de energias contidas na pressão e no calor. Assim elas se tornam mais maleáveis e sua estrutura se adapta numa relação mais harmoniosa com as partes do corpo. No processo de integração estrutural, o Rolfing, ajuda a flexibilizar esses tecidos e a descolar as camadas umas das outras, reposicionado-as. Como  resultado temos a redução de tensões e encurtamentos. O método realinha e equilibra todo o corpo, potencialmente reduzindo desconforto e aliviando a dor.

A fáscia também conta com receptores que mandam informação da medula espinhal para o cérebro sobre a posição e locomoção do corpo. Possui ainda na sua substância fundamental substâncias que contribuem para processos imunológicos no organismo. Já dá para se ter uma ideia da grande importância da fáscia no corpo humano. Para ajudar ainda mais na compreensão, a criadora do método Rolfing, Ida Rolf, usou como exemplo, a laranja. Segundo a rolfista, a fáscia seria a película que forma, separa e ao mesmo tempo une cada um de seus gomos. É ela que cria as condições estruturais que dão forma à  laranja.

No corpo humano, a fáscia tem a mesma função, com a diferença básica de que nosso corpo é uma estrutura viva, em constante movimento. Ida reitera que a fáscia também é uma camada protetora e usa dessa vez como exemplo a cebola: ”Você pode descascar uma cebola, camada por camada até o miolo; sua semente ainda estará lá e, se você a puser na terra, ela crescerá. Mas se você pegar uma faca e empurrá-la até o miolo, a semente terá sido rompida. Acontece coisa parecida com os corpos”.

Descobertas recentes sobre um órgão ignorado por muito tempo

A forma específica do tecido fascial depende dos eventos locais e de forças tensionais: se essa região do corpo necessita de uma força unidirecional, numa região que lida com muita carga, então a rede fascial vai tomar a forma de um ligamento ou tendão. Em outras regiões pode assumir formas de rede de pesca, com fibras mais finas e distribuídas em várias direções.

Essa maneira de ver a fáscia reconhece sua continuidade pelo corpo e também as particularidades de cada região. Os tecidos conjuntivos em torno de uma articulação envolvem cápsula articular, ligamentos, envoltórios de músculos, e a distinção entre eles serve mais para facilitar o estudo do que expressar o real.

A fáscias também transmitem a força de contração dos músculos, o que ativa os músculos antagonistas, que fazem a ação oposta e em caso de lesões ou patologias que  atrapalham muito o movimento. É com se o carro andasse com o freio de mão puxado, ativando tanto o músculo responsável pelo movimento como seu antagonista ( o que faz a ação oposta).

A composição da fáscia é água,  proteínas (proteoglicanos ou glicoproteinas, presentes em suplementos para articulações)  – o que dá um a consistência de gelatina, mais mole numas regiões que em outras. São combinadas com células produtoras de fibras, que as produzem conforme a necessidade local. A maior parte das fibras são de colágeno, e também existem fibras elásticas. A matriz pode ser comparada a uma rede de cabos fortes combinadas com um material sem forma definida que dá resistência e capacidade de absorver cargas em todas as direções.

Este tecido se adapta conforme ele é utilizado: nos diferentes esportes, no sedentarismo, na imobilização, nas lesões de uma perna, o que ocasiona a transferência de peso maior para a outra perna, espaçando assim suas fáscias.

O Rolfing trabalha os receptores fásciais que  reagem a pressão da sua manipulação específica, modificando sua forma e função. Assim, fáscias ”embolada”, desorganizadas por mau ou falta de uso, lesões, compressões, posturas mantidas durante muitas horas, ou muitos anos, que acabam por rigidificar suas fibras e interrompem o funcionamento global e a comunicação entre as várias partes do corpo são melhoradas com o método Rolfing.

Quais as principais funções da fáscia?

As principais funções da fáscia são:

– Serve de bainha elástica de contenção para exercer tração durante a contração,

– Permite fácil deslizamento muscular entre si,

– Separa grupos em compartimentos musculares,

– Serve de meio de suporte para nervos e vasos sanguíneos e linfáticos,

– Permite a movimentação dos tecidos subjacentes uns sobre os outros, fornecendo estabilidade e contorno à estrutura corporal.

– É responsável pelo fluído lubrificante existente entre as estruturas, o que facilita o movimento e a nutrição dos tecidos.

Tipos de fáscias

Mesmo sendo um tecido contínuo conta com diversas camadas, e cada uma delas recebe nomes específicos. São classificados nos três seguintes grupos:

Fáscia superficial: trata-se da camada mais externa, ela comunica-se diretamente com a pele. É essa malha que permite que a pele se movimente em várias direções sobre as estruturas mais profundas. É na fáscia superficial onde se acumulam fluidos e metabólitos, que podem causar alterações de textura notáveis à palpação. Esta contém tecido adiposo, vasos sanguíneos e linfáticos e tecidos nervosos, dos quais se destacam os receptores da pele.

Fáscia profunda: essa é a camada que envolve e separa os músculos e os órgãos viscerais internos e é uma das estruturas responsáveis para a função e contorno corporal. É  a camada que compartimenta o corpo. A sua malha é firme e compacta, com alguma rigidez.

Fáscia sub-serosa: essa fáscia reveste os órgãos viscerais internos. É constituída por tecido conjuntivo de malha laxa de fibras entrelaçadas e possui numerosos canais circulatórios que lubrificam as superfícies das vísceras internas.

 

 

ROLFING PARA IDOSOS

Com o passar dos anos os sistemas: cardiovascular, imunológico, músculo-esquelético, etc, começam a enfraquecer. Porém, pessoas que possuem uma boa qualidade de vida, que buscam ser mais saudáveis e encontram métodos e atividades que ajudam no processo de fortalecimento do corpo, podem envelhecer com mais conforto e de forma mais segura.

Temos que considerar que envelhecer é uma experiência pessoal e para chegar nessa fase da vida de uma forma positiva é preciso conhecer e buscar soluções que, além de ajudar o corpo, também podem ser bem interessantes. Algumas atividades melhoram as capacidades motoras e a eficiência fisiológica. São métodos que trazem às pessoas da terceira idade mais saúde física e mental, proporcionando mais independência, esse é o caso do Rolfing®.

Mas como funciona o Rolfing?

Para o obter uma posição mais equilibrada realinhando os músculos, ossos e ligamentos, a técnica utiliza toques específicos e precisos nos tecidos moles que consistem de músculos, ligamentos, tendões e fáscias. Eles desamarram os tecidos – no caso as fáscias – que estão sob tensões excessivas e desnecessárias afetando músculos, ossos e ligamentos.

Segundo a Dra. Ida Rolf, criadora do método Rolfing:  “Alguns indivíduos percebem que estão perdendo a batalha contra a gravidade com uma dor constante ou intensa nas costas. Outros percebem que os contornos de seus corpos ficaram deformados ou feios. Outros sentem uma fadiga, uma falta de energia constante. Aqueles que têm mais de 40 anos podem chamar estas sensações e percepções de processo de envelhecimento. Porém, todos esses sinais estão apontando pra um único problema: seus corpos estão em desequilíbrio, seus corpos estão lutando contra a força da gravidade.”

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O Rolfing ajuda na correção postural e também a aliviar as dores causadas pelo desgaste do corpo, além de devolver a harmonia, a energia e o bem-estar. O método é eficaz na hora de recolocar nosso corpo no lugar e, assim, podemos retomar a sensação de bem-estar. Tudo isso é possível, graças a essa manipulação que atua sobre o sistema muscular, ósseo e articular.

O tratamento pode ser feito por todos os idosos, desde os que buscam métodos preventivos até os que possuem desgaste articular, artrose, fibromialgia, artrite, dores lombares, ciáticas, no pescoço, no ombro, enxaqueca, tendinites, bursites, LER/DORT, hérnia de disco, bico de papagaio, entre outras patologias causadas por lesões e pelo envelhecimento dos músculos e articulações. O Rolfing também estimula o sistema nervoso e ajuda na redução da curvatura espinhal.

Quais os casos que o Rolfing auxilia?

Os traumas físicos e emocionais adquiridos ao longo da vida fazem com que venhamos a desenvolver dores e degenerações que podem levar a má postura, dores e tensões crônicas. Na hora de tratar, o Rolfing se diferencia por considerar o corpo e a pessoa como um todo e não somente um local especifico. Além de ser um método eficiente, o Rolfing não é invasivo e se mostra mais duradouro.

Um problema muito comum entre os idosos são as quedas e geralmente elas vem acompanhadas de fraturas. As principais causas de quedas são a perda de equilíbrio, fraqueza muscular  e falta de mobilidade, por isso, tratamentos de prevenção são tão importantes.

O Rolfing também auxilia no tratamento de recuperação para a preservação da autonomia da pessoa idosa, para que ela possa desempenhar suas atividades. Problemas como AVC e outras doenças cerebrovasculares menos dramáticas, possuem uma recuperação mais eficiente com o tratamento. No  Parkison, o Rolfing pode ajudar na rigidez global que a doença causa, que dificulta os movimentos e o equilíbrio e favorece a ocorrência de quedas.

A osteoartrose, que  é um desgaste das articulações, que acomete 70% dos idosos, pode acometer a coluna, joelhos, quadril e mãos, e a manifestação principal é dor crônica. Ela não tem cura mas as complicações podem ser prevenidas com o fortalecimento dos músculos e orientação de postura que podem ser encontradas no tratamento com Rolfing.

Portanto, quem busca uma melhor qualidade de vida, com uma postura ereta e organizada, quer diminuir as dores crônicas, deseja mais flexibilidade, amplitude articular e liberar traumas físicos e emocionais armazenados no corpo, o Rolfing pode ser uma ótima saída.

FIBROMIALGIA E O MÉTODO ROLFING

O tratamento com Rolfing é muito indicado para pessoas que sofrem de dores e desconfortos musculares e articulares de todos os tipos. Entre eles estão: dores nas costas e também lombar e no pescoço, tendinite, artrose, enxaqueca , bursite crônica e a fibromialgia. O método Rolfing® é manual e se dá com toques precisos na fáscia, tecido que envolve os ossos, músculos, ligamentos e tendões. Ajuda o corpo a funcionar melhor e de forma mais saudável, gerando modificações em sua estrutura, trazendo assim bem-estar corporal, eliminando ou minimizando as dores e tensões.

O diferencial do Rolfing, comparado a outras terapias, é que os resultados permanecem. O tratamento constitui de no mínimo 10 sessões; é feita uma análise detalhada de toda a estrutura corporal pelo rolfista antes do começo do tratamento a fim de descobrir as causas do problema. O profissional relaciona o local da dor com outras partes do corpo que estejam em desequilíbrio.

Um estudo foi realizado com trinta pacientes do Centro de Dor da Clínica Neurológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo com o objetivo de verificar a eficácia do método no tratamento de pacientes fibromiálgicos. Durante o tratamento foram realizadas 10 sessões manuais profundas aplicadas na estrutura fibroelástica do tecido conjuntivo. O tratamento teve como finalidade o alívio da dor e dos estados de ansiedade e de depressão. Todos os pacientes mantiveram o tratamento ambulatorial de rotina.

O tratamento foi eficaz e apresentou diferença estatisticamente significativa nos quesitos avaliados. Os pacientes tratados apresentaram melhora que se correlacionou com a intervenção do método Rolfing. Ao redistribuir a tensão muscular, a maneira de sentir o corpo, modificar gestos, pensamentos e o modo de lidar com o cotidiano, os fibromiálgicos, puderam desenvolver mecanismos para controlar seus sintomas. Adotaram uma postura mais positiva frente à doença, o que ajuda a evitar que a dor domine sua vida, recuperando desse modo sua qualidade de vida e conquistando melhor adequação social.

O QUE É FIBROMIALGIA?

Trata-se de uma síndrome clínica patológica relacionada com o funcionamento do sistema nervoso central. A pessoa que sofre da doença desenvolve fortes dores por todo o corpo durante longos períodos, com sensibilidade nas articulações, nos músculos, tendões e em outros tecidos moles. Ela também está diretamente ligada à fadiga, distúrbios do sono, dores de cabeça, depressão e ansiedade.

A fibromialgia (SFM) é reconhecida pela classe médica como síndrome, pois se caracteriza como um grupo de sintomas onde não se identifica uma causa única. A dor da SFM pode desencadear espasmo muscular e  reflexo protetor, o que causa mais dor e resulta em limitação progressiva dos movimentos, rigidez e adoção de postura inadequada.

A fibromialgia não provoca inflamações nem deformidades físicas, mas pode estar associada a outras doenças reumatológicas, o que pode confundir o diagnóstico. A causa específica da fibromialgia é desconhecida. Sabe-se, porém, que os níveis de serotonina são mais baixos nos portadores da síndrome e que desequilíbrios hormonais, tensão e estresse podem estar envolvidos em seu aparecimento.

FIBROMIALGIA: SINTOMAS

Pessoas que desenvolvem fibromialgia além de dores por todo corpo também apresentam sintomas característicos como: fadiga – cansaço extremo, mesmo tendo acabado de acordar; apnéia/e ou insônia; dificuldades cognitivas – sentem problema para se concentrar; dor de cabeça frequente ou enxaqueca; dor no quadril; dor abdominal; dormência e formigamento nas mãos e nos pés; palpitações; dificuldade para se exercitar.

Também desenvolvem relação de dependência com familiares. Muitos relatam alteração no humor e depressão. Os sintomas podem ser causados, intensificados ou mantidos por influência emocional. A dor pode ter início em uma região, particularmente nos ombros e no pescoço, e se tornar generalizada depois de um tempo.

Seus principais fatores desencadeantes são as mudanças climáticas, particularmente o frio e a umidade e, até mesmo um acidente automobilístico. Entretanto o estresse emocional é um dos principais desencadeantes, tanto por problemas passados como atuais.

FIBROMIALGIA: TRATAMENTO

Os medicamentos que geralmente são prescritos para tratamento da fibromialgia são analgésicos e antidepressivos. Também podem ser receitados remédios para melhorar o sono e/ou relaxantes musculares. O repouso e relaxamento, além de dieta balanceada e atividades físicas regulares também fazem parte do tratamento.

O método Rolfing é recomendado como tratamento complementar, não substitui os tratamentos convencionais, mas pode fazer parte do tratamento multidisciplinar, frequentemente indicado para pacientes com dor crônica. O Rolfing proporciona melhora dos transtornos do sono, dos sintomas psíquicos como ansiedade e depressão, e melhora muito  a intensidade da dor.

Existem diversos relatos de pacientes com fibromialgia que mudaram muito sua qualidade de vida depois que começaram o tratamento com o método Rolfing.

A parte secreta do músculo

Músculo: palavra masculina que evoca irresistivelmente a musculação, os pesos, grandes bíceps, halos de suor debaixo dos braços, entre as omoplatas. Surpreendentemente, vem do Latim musculus,significando pequeno rato.

Quanto a definição do dicionário, aqui está: músculo é um órgão carnudo de fibras contráteis cujas contrações servem para mover as articulações, produzindo assim todos os movimentos do nosso corpo.
Nossos músculos são muito úteis. Nós também podemos treiná-los, desenvolver a sua força para nos movermos melhor e até mais rápido. Obrigada nossos músculos!

Pessoalmente, os músculos me tocam. Eu os acho corajosos, resistentes, especialmente porque eu sei como eles são … sensíveis e inteligentes e incrivelmente dedicados à nossa causa.

Sempre que algo acontece conosco, ali estão eles, na linha de frente para nos defender e nos proteger, pequenos bravos soldados .

Nós caímos de bicicleta, nós argumentamos com um ente querido, alguma coisa nos pára ou nos ataca e lá estão eles, prontos para agir. Sua maneira de reagir é sempre a mesma: eles encolhem, contraem, travam. Isto acontece no interior deles mesmos, na privacidade das suas fibras irritáveis, das suas células contráteis. Sim, isso é o que fazem os nossos músculos mesmo sendo tão fortes, eles são como um caracol protegendo-se as pressas em sua concha se lhe tocam os chifres.

Seu encurtamento repentino, sua súbita rigidez atua como um anestésico poderoso que nos corta a sensação de dor, formando uma barreira à percepção de nossas emoções.

Cada um dos músculos do nosso corpo, do menor ao maior, é dotado desta faculdade: os músculos do nosso pescoço, dos ombros, das costas, dos olhos, da boca, do nosso sexo e até aqueles que estão nas plantas dos nossos pés.
Eles fazem isso de forma discreta, quase em segredo, muitas vezes sem o nosso conhecimento. O objetivo da operação é simples: permitir-nos continuar a viver e nos mover quase normalmente, apesar do choque.

O sistema de defesa é notável. Ele nos permite enfrentar as maiores dificuldades, para continuar a andar com um tornozelo quebrado ou de aguentar em silêncio os piores insultos.

Na verdade eu te digo, nossos músculos são maravilhosos! No entanto, eles não são heróis. Eles têm falhas. Começando por uma grande dificuldade para retornar ao seu estado normal, para liberar suas tensões que se organizaram para nos salvar. Mesmo que o trauma já tenha passado, os músculos não desistiram de nos proteger. Sua rigidez em vez de sumir, se acumula.

Os animais não são como nós, eles sabem instintivamente relaxar a tensão muscular. Eles fazem isso de forma espontânea e automaticamente. Eles tremem, se sacodem e seguem em frente liberados. Nós não. Nossos músculos têm memórias de longa duração.

No entanto, nada está perdido. Podemos ajudá-los a recuperar a sua flexibilidade e elasticidade. Como? Ao oferecer à eles que se movam novamente com confiança, tranquilizando-os, abordando-os com ternura. Isso não significa tentar forçá-los a qualquer preço para que se alonguem, nem querer fortalecê-los sistematicamente porque nós pensamos que eles são fracos. Na verdade eles estão tensos, bloqueados, rígidos, tão apertados que deram um nó. Eles precisam de tempo.

Finalmente nossos músculos são como nós, eles são nós.

Cuidemos deles, cuidemos de nós mesmos.

Marie Bertherat