Como da Medicina cheguei ao Rolfing
Eu estava no terceiro ano de medicina da UFF e estava desapontada: “Raramente cura, trata sintomas, etc”
Minha mãe, que sempre foi uma pessoa especial, aberta, que fazia ioga nos anos 60 morando numa cidade (bem) do interior, me chamou a atenção sobre um artigo no Jornal do Brasil sobre um livro de uma terapeuta francesa chamada Therese Bertherat: “O Corpo Tem Suas Razões”, que achei muito interessante. Li e pensei “Quero fazer um trabalho assim”.
Continuei meus estudos, mas sem tanta convicção. O que aconteceu é que várias circunstâncias mudaram na minha vida e tive que adiar a conclusão do curso. Neste espaço de tempo tive muito tempo para refletir e percebi o quanto nossas vidas são impulsionadas por forças externas, como emendamos uma atividade na outra, sem tempo para reflexão. Como terminamos uma faculdade que às vezes nem queremos terminar e muito menos trabalhar na profissão escolhida num momento em que somos tão imaturos.
E tive tempo para estudar o assunto que me interessava, como trabalhar cuidando das pessoas de outras maneiras. Neste tempo fiz RPG, antiginástica e aí encontrei o Rolfing através da minha querida fisioterapeuta.
A minha experiência com o Rolfing teve um efeito muito grande sobre mim, não só na minha postura mas também na minha sensibilidade, levando inclusive a alterações de comportamento.
Fiquei encantada e resolvi fazer a formação. Isso demorou algum tempo, pois naquela época a preparação exigia cursos independentes como massagem, anatomia, fisiologia e a produção de um paper. A anatomia e fisiologia eu já tinha cursado, mas o curso de massagem eu tive que fazer.
Neste meio tempo, me transferi para a Faculdade de Medicina de Jundiaí, onde me formei em 1989, porque achei que me daria uma idéia melhor do corpo humano para minha prática de Rolfing. Me formei no Colorado, sede do Rolf Institute, em 1990, e comecei a trabalhar com Rolfing em Campinas.
Aos poucos, fui percebendo a pluralidade dos efeitos desta terapia. Alinhava o corpo, de acordo com um fio de prumo, com a força de gravidade. A Ida Rolf, que era uma doutora em Bioquímica nos anos 1920, dizia que o Rolfing ajudava o homem na sua evolução para a vertical, sendo o único espécime do reino animal que não se locomove sobre quatro apoios.
O que senti e percebi foi que o trabalho no corpo liberava-o de coisas que eu chamei de “maus espíritos grudados na carne”, na falta de expressão melhor. Me sentia mais livre, leve, e muitos clientes também reportavam a mesma sensação.
Uma coisa que sempre achei muito interessante no Rolfing foi que todos os rolfistas têm que passar pelo processo. Seria um equivalente a fazer um cirurgião se submeter a uma cirurgia, o que certamente o enriqueceria muito em relação a conhecer o outro lado do seu trabalho, o lado do paciente.
O Rolfing diminuía ou eliminava dores físicas, melhorava o movimento, mudava a expressao facial, o contato consigo mesmo, deixando o ciclo tensão-relaxamento mais adequados as atividades exercida pelas pessoas. E uma percepção do corpo que surgia naturalmente, e que não vinha de idéias, mas de sensibilidade, ligada aos sentidos, como se estivéssemos aguçando nossos mecanismos primitivos de ajuste da postura, do movimento e da sensibilidade.
Depois de alguns anos de formada, fui fazer estágio em clínica medica e fisiatria, na Escola Paulista de Medicina. Esses estágios me enriqueceram muito e me reconciliaram com a medicina, que não é exatamente o que eu achava aos 22 anos.