Ouvimos falar sobre os músculos, ossos,órgãos, células, porém, o tecido que reveste todas essas partes do corpo ainda é muito pouco conhecido popularmente. Chamado de fáscia, ou compartimento fascial, essa é a principal matéria prima que o rolfista trabalha. Trata-se de um tecido conjuntivo fibroso que é responsável por 80% do movimento mecânico muscular. Essa malha de tecido conecta e envolve os músculos, ossos e órgãos, formando uma teia tridimensional da cabeça aos pés.
A fáscia é organizada em camadas, envolvendo e preenchendo toda estrutura do corpo, e também dá condições para que cada segmento funcione de maneira adequada. Graças a sua plasticidade, consegue suportar os músculos e proporcionar uma boa relação com os ossos, o que basicamente determina a forma do corpo.
Esse tecido conectivo é composto por elastina, colagénio e mucopolissacaridios. A elastina proporciona elasticidade e uma porcentagem de água que lhe atribui a viscosidade necessária para deslizar entre uma camada e outra. Já o colágeno deixa a malha resistente e colante. O equilíbrio entre esses dois componentes permite que as fáscias tenham flexibilidade. Essa malha é alimentada por um nervo e vasos sanguíneos específicos.
Indispensável para o desempenho fisiológico de cada ser humano, as fáscias mantém juntas as células musculares e permite o movimento independente de cada músculo. Por diversas razões e tensões do dia a dia, pode acontecer do músculo ficar sobrecarregado, diante disso, a fáscia acaba absorvendo parte dessa carga e isso impede que o músculo se rompa. Com o esforço excessivo a fáscia acaba se tornando mais densa e curta, perdendo sua elasticidade e adquirindo inflamações. Assim a estrutura corporal vai mudando gradativamente.
A boa notícia é que a fáscia pode ser modificadas com aplicações de energias contidas na pressão e no calor. Assim elas se tornam mais maleáveis e sua estrutura se adapta numa relação mais harmoniosa com as partes do corpo. No processo de integração estrutural, o Rolfing, ajuda a flexibilizar esses tecidos e a descolar as camadas umas das outras, reposicionado-as. Como resultado temos a redução de tensões e encurtamentos. O método realinha e equilibra todo o corpo, potencialmente reduzindo desconforto e aliviando a dor.
A fáscia também conta com receptores que mandam informação da medula espinhal para o cérebro sobre a posição e locomoção do corpo. Possui ainda na sua substância fundamental substâncias que contribuem para processos imunológicos no organismo. Já dá para se ter uma ideia da grande importância da fáscia no corpo humano. Para ajudar ainda mais na compreensão, a criadora do método Rolfing, Ida Rolf, usou como exemplo, a laranja. Segundo a rolfista, a fáscia seria a película que forma, separa e ao mesmo tempo une cada um de seus gomos. É ela que cria as condições estruturais que dão forma à laranja.
No corpo humano, a fáscia tem a mesma função, com a diferença básica de que nosso corpo é uma estrutura viva, em constante movimento. Ida reitera que a fáscia também é uma camada protetora e usa dessa vez como exemplo a cebola: ”Você pode descascar uma cebola, camada por camada até o miolo; sua semente ainda estará lá e, se você a puser na terra, ela crescerá. Mas se você pegar uma faca e empurrá-la até o miolo, a semente terá sido rompida. Acontece coisa parecida com os corpos”.
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A forma específica do tecido fascial depende dos eventos locais e de forças tensionais: se essa região do corpo necessita de uma força unidirecional, numa região que lida com muita carga, então a rede fascial vai tomar a forma de um ligamento ou tendão. Em outras regiões pode assumir formas de rede de pesca, com fibras mais finas e distribuídas em várias direções.
Essa maneira de ver a fáscia reconhece sua continuidade pelo corpo e também as particularidades de cada região. Os tecidos conjuntivos em torno de uma articulação envolvem cápsula articular, ligamentos, envoltórios de músculos, e a distinção entre eles serve mais para facilitar o estudo do que expressar o real.
A fáscias também transmitem a força de contração dos músculos, o que ativa os músculos antagonistas, que fazem a ação oposta e em caso de lesões ou patologias que atrapalham muito o movimento. É com se o carro andasse com o freio de mão puxado, ativando tanto o músculo responsável pelo movimento como seu antagonista ( o que faz a ação oposta).
A composição da fáscia é água, proteínas (proteoglicanos ou glicoproteinas, presentes em suplementos para articulações) – o que dá um a consistência de gelatina, mais mole numas regiões que em outras. São combinadas com células produtoras de fibras, que as produzem conforme a necessidade local. A maior parte das fibras são de colágeno, e também existem fibras elásticas. A matriz pode ser comparada a uma rede de cabos fortes combinadas com um material sem forma definida que dá resistência e capacidade de absorver cargas em todas as direções.
Este tecido se adapta conforme ele é utilizado: nos diferentes esportes, no sedentarismo, na imobilização, nas lesões de uma perna, o que ocasiona a transferência de peso maior para a outra perna, espaçando assim suas fáscias.
O Rolfing trabalha os receptores fásciais que reagem a pressão da sua manipulação específica, modificando sua forma e função. Assim, fáscias ”embolada”, desorganizadas por mau ou falta de uso, lesões, compressões, posturas mantidas durante muitas horas, ou muitos anos, que acabam por rigidificar suas fibras e interrompem o funcionamento global e a comunicação entre as várias partes do corpo são melhoradas com o método Rolfing.
Quais as principais funções da fáscia?
As principais funções da fáscia são:
– Serve de bainha elástica de contenção para exercer tração durante a contração,
– Permite fácil deslizamento muscular entre si,
– Separa grupos em compartimentos musculares,
– Serve de meio de suporte para nervos e vasos sanguíneos e linfáticos,
– Permite a movimentação dos tecidos subjacentes uns sobre os outros, fornecendo estabilidade e contorno à estrutura corporal.
– É responsável pelo fluído lubrificante existente entre as estruturas, o que facilita o movimento e a nutrição dos tecidos.
Tipos de fáscias
Mesmo sendo um tecido contínuo conta com diversas camadas, e cada uma delas recebe nomes específicos. São classificados nos três seguintes grupos:
Fáscia superficial: trata-se da camada mais externa, ela comunica-se diretamente com a pele. É essa malha que permite que a pele se movimente em várias direções sobre as estruturas mais profundas. É na fáscia superficial onde se acumulam fluidos e metabólitos, que podem causar alterações de textura notáveis à palpação. Esta contém tecido adiposo, vasos sanguíneos e linfáticos e tecidos nervosos, dos quais se destacam os receptores da pele.
Fáscia profunda: essa é a camada que envolve e separa os músculos e os órgãos viscerais internos e é uma das estruturas responsáveis para a função e contorno corporal. É a camada que compartimenta o corpo. A sua malha é firme e compacta, com alguma rigidez.
Fáscia sub-serosa: essa fáscia reveste os órgãos viscerais internos. É constituída por tecido conjuntivo de malha laxa de fibras entrelaçadas e possui numerosos canais circulatórios que lubrificam as superfícies das vísceras internas.